Dom Cláudio Hummes elogia avanços sociais mas afirma que "corrupção é doença muito séria"
PORTO ALEGRE - O cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero do Vaticano, elogiou os avanços do País na área econômica e social, mas disse que a corrupção feriu o povo. A avaliação foi feita ontem em entrevista coletiva durante a participação do religioso no 1º Fórum da Igreja Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Ao falar sobre o momento político do Brasil, dom Cláudio se disse feliz porque desde as lutas pela redemocratização nos anos 80 o País avançou bastante. Também destacou ter ficado feliz com as recentes estatísticas de diferentes fontes que indicam redução da pobreza e da mortalidade infantil. "Mas temos problemas muito grandes na corrupção", ressalvou, sem deixar de encontrar um aspecto positivo também neste item do debate nacional ao lembrar que agora, ao contrário de antigamente, muita gente está sendo presa e processada. "Esse é um bom sinal, ao passo que de outro lado mostra que a corrupção é uma doença muito séria, muito grande." Apesar de destacar avanços, dom Cláudio acredita que há muito a ser feito ainda na área social e também na área política. Nesta, segundo o cardeal, há necessidade de reformas. "Claro que a Igreja não vai propor com qual metodologia, mas é importante que se faça corajosamente", recomendou. Antes de falar com os jornalistas, ao responder perguntas de participantes do evento, dom Cláudio teve de abordar questões políticas da Igreja, ao ser questionado sobre a pequena influência que apenas três cardeais brasileiros, representantes de milhões de católicos, podem ter nas decisões do Vaticano e até num conclave para eleição de um papa. O religioso admitiu que o número de cardeais na ativa - dois no Brasil e ele em Roma - talvez não corresponda à proporcionalidade do número de fiéis que representam, mas considerou que as vagas são apenas 120 e que houve nomeações recentes para outros países, nos quais a presença da Igreja Católica também é importante. "Mas esperamos que assim que houver um novo grupo de cardeais também sejam nomeados alguns brasileiros", comentou. Segundo dom Cláudio, a recente visita do Papa Bento XVI ao Brasil para a Conferência do Episcopado Latino-Americano mostra a presença muito grande do continente na pauta do Vaticano. "A Igreja hoje tem dois desafios muito grandes, de não perder a Europa, de onde o cristianismo se espalhou para o mundo e não perder o único continente majoritariamente católico, a América Latina", revelou. "Seriam desastres irreparáveis." Ao orientar a presença evangelizadora de bispos, padres e leigos, dom Cláudio lembrou que a Igreja, por ser católica, não pode ser sectária. "Devemos ser capazes de abraçar a todos, desde a extrema direita à extrema esquerda, e conduzi-los a Jesus Cristo", afirmou, pedindo desculpas pelo uso dos termos políticos. Dom Cláudio também abordou a polêmica em torno do documento final da Conferência do Episcopado Latino-Americano. O texto foi aprovado em 31 de maio em Aparecida (SP), mas posteriormente teve um artigo favorável às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) suprimido. A exclusão seguiu orientação de consultores jurídicos do Vaticano, que consideraram que o trecho havia sido reprovado quando votado individualmente numa etapa intermediária da elaboração do documento e, por isso, não poderia entrar na versão final. "Os juristas não interferiram no texto, apenas esclareceram qual era a votação que tinha validade", afirmou dom Cláudio. O cardeal brasileiro entende que o documento ainda contém apoio muito grande às CEBs e à opção preferencial pelos pobres e considera que isso é que é essencial e deve ser captado por todos os católicos. Fonte: Tribuna da Imprensa"Corrupção fere o povo brasileiro"
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