domingo, 23 de março de 2008

Proteção de Cristo?


Josué Maranhão

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BOSTON – Em respeito àqueles que reverenciam hoje a Sexta Feira Santa, ou Sexta Feira da Paixão, fujo da temática habitual. Aproveito para contar episódios ocorridos com minha mulher Iraci e comigo, há vinte anos, quando visitamos Israel, inclusive o território que se convencionou chamar de Terra Santa.

Entre os muitos lugares em que estivemos, destaco o santuário existente no local onde, conforme a Bíblia e os relatos históricos dos cristãos, teria nascido Jesus Cristo.

Algumas coisas me impressionaram na visita.

Em primeiro lugar, a reverência, o respeito, a contrição de todos, cristãos e não cristãos. Impressiona a forma como se portam diante do sítio histórico, É um santuário erguido em local integrado ao território de Israel, mas é respeitado pelos crentes das outras religiões predominantes no lugar, como judeus e muçulmanos, que consideram Jesus Cristo somente um profeta. Para ele, Jesus Cristo não é o Messias, que ainda está para chegar.

Obviamente, os cristãos se comportam com toda a liturgia e celebrações em homenagem àquele que o consideram Deus, ou o filho de Deus.

Chamou-me a atenção um detalhe.. O santuário é mantido e dirigido exclusivamente por sacerdotes da Igreja Cristã Ortodoxa Armênia. Nota-se a ausência da Igreja Católica Apostólica Romana. Ninguém soube me explicar porque. Mas informaram-me que é assim há muito tempo.

As comemorações cristãs de hoje me fazem lembrar a nossa visita a Jerusalém.

Fizemos a visita integrando um grupo, em que o guia era um jovem nascido no Uruguai, judeu, que vivia há muitos anos em Israel. Para começar, a visita foi tumultuada, por conta de uma greve. Não, como é comum, uma grave de empregados. Era uma greve de comerciantes, que fecharam as portas dos estabelecimentos e nas ruas faziam passeatas,portando faixas e cartazes, alguns discursando, tudo em protesto contra alguma determinação dos administradores da cidade, com a qual não concordavam. É a eterna pendenga entre israelenses e palestinos. E a divisão da chamada “Cidade Santa” entre crentes de três credos.

Desviando-nos do tumulto, o guia nos levou a percorrer a Via Sacra. Acompanhávamos passo-a-passo, o trajeto que teria sido percorrido por Cristo, na caminho para o Calvário. Em cada ponto da Via Sacra viam-se cristãos orando, na maioria católicos, alguns chorando.

Merece destacar que, em mais de um ponto da Via Sacra, que marca a caminhada de Cristo para a morte, observei crentes de outras religiões, notadamente islâmicos e judeus, em reverência respeitosa, orando,pedindo em favor de Jesus, ao Deus em que acreditam. Aliás, situações semelhantes observei, anos depois, quando vivi na Indonésia, onde os muçulmanos tratam Jesus Cristo com o devido respeito, apesar de não acreditarem que ele seja Deus, ou o filho de Deus. Igual tratamento observei na Índia, entre indianos, que professam o hinduismo.

Não me parece ser comum os cristãos, notadamente os católicos, respeitarem os crentes de outras religiões, seus deuses ou entes superiores em que acreditam, com igual reverência. Há muita intolerância.

Mas, voltando à Via Sacra, tudo ia muito bem, ainda não havíamos terminado o percurso, quando, ao entrarmos em uma viela, um beco sem saída, fomos cercados por uma patrulha militar. Eram soldados do Exército de Israel, fortemente armados. Estavam contendo as manifestações grevistas e, diante de alguma resistência encontrada, haviam determinado que todos se retirassem de determinada área, que ficou militarmente isolada.

Nosso grupo estava exatamente em local que deveria ter sido desocupado. Isto porque não havíamos escutado os avisos divulgados. Em princípio o “tempo esquentou” e, diante do que se conhece quanto ao comportamento do Exército de Israel, observando a agressividade dos soldados, todos nós imaginávamos que algo de ruim estava para nos acontecer.

Felizmente, o nosso guia identificou o comandante da patrulha : o oficial era um seu companheiro e amigo, da época em que havia prestado o serviço militar obrigatório.

Tudo se resolveu, entre apertos de mãos e abraços. Nos foi permitido continuar o trajeto, desde que obedecendo as determinações dos militares israelenses, quanto aos locais isolados.

Tudo sossegado, na volta para o hotel, imaginei: será que nós fomos protegidos por Cristo?


Sexta-feira, 21 de março de 2008

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