sábado, 16 de agosto de 2014

Papa sublinha diferenças sociais na missa de beatificação de mártires em Seul


No terceiro dia de visita à Coreia do Sul, Francisco lembrou os que recusaram as “rígidas estruturas sociais do seu tempo”.

Na agenda deste sábado do Papa, que se encontra em visita à Coreia do Sul, esteve a beatificação de 124 mártires católicos que recusaram renunciar à sua fé nos séculos XVIII e XIX. Na missa que realizou durante a cerimónia, na qual participaram centenas de milhares de fiéis em Seul, Francisco sublinhou a importância do exemplo dado pelos mártires “numa sociedade onde, ao lado de imensas riquezas, cresce silenciosamente a pobreza mais abjecta, onde raramente se escuta o grito dos pobres”.
Na missa de beatificação que decorreu na Porta de Gwanghwamun, no centro da capital sul-coreana, onde muitos católicos perseguidos foram mortos durante a dinastia Chosun, o Papa falou da coragem e da caridade demonstradas pelos mártires durante a sua resistência à renúncia da fé católica e à perseguição que sofreram, mas também à forma como desafiaram as “rígidas estruturas sociais do seu tempo”.
Francisco, que estará na Coreia do Sul até à próxima segunda-feira, dia em que celebrará uma missa final pela paz e a reconciliação das duas Coreias, apelou a que o legado deixado pelos mártires inspire “todos os homens e mulheres de boa vontade a trabalharem harmoniosamente por uma sociedade mais justa, livre e reconciliada, contribuindo assim para a paz e a defesa dos valores autenticamente humanos neste país e no mundo inteiro”.
Esta é a terceira vez que a Igreja sul-coreana celebra a beatificação de alguns dos seus católicos. Segundo o Vaticano, em 1925, Pio XI proclamou 79 fiéis mortos entre 1839 a 1846. Em 1968, Paulo VI beatificou 24 mártires, perseguidos em 1866. Entre estes mártires destaca-se André Kim Taegon, o primeiro sacerdote católico sul-coreano.
O Cristianismo apareceu na Coreia do Sul não pelas mãos de missionários católicos mas pelos próprios sul-coreanos. O contacto com a religião começou com livros vindos da China. Formada uma comunidade católica, a pregação da palavra de Cristo enfrentou a perseguição, da qual resultou a morte de milhares de pessoas. Estima-se que, actualmente, o país tenha perto de cinco milhões de católicos, cerca de 11% da população, e que todos os anos se tornem fiéis 100 mil pessoas.
À margem da cerimónia, o Papa rezou com familiares de algumas das vítimas do naufrágio do ferry Sewol, em Abril último, no qual morreram mais de 300 pessoas, na sua maioria alunos de escolas sul-coreanas. As famílias entregaram uma carta a Francisco a quem pediram para que não esquecesse as vítimas.


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