Lula Marques/Folha
Dilma Rousseff cumpriu , em Brasília, um compromisso político-religioso. Foi à sede da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil.
Acompanhada do candidato a vice, Michel Temer, a pupila de Lula recebeu o apoio de representates de 15 igrejas evangélicas.
Ao chegar, Dilma foi submetida à evidência de que a adesão dos pastores não é seguida pela integralidade do rebanho.
Ovelhas “desgarradas” oganizaram um protesto contra a candidata. Duas delas desenrolaram uma faixa na qual se lia: "Apoiar a Dilma é negar a Bíblia" (repare na foto lá do alto).
Numa ponta, Silvio Moreira Santos, técnico em eletrônica. Na outra, Wilson de Araújo Sampaio, pastor da Assembléia de Deus.
Na passagem de Dilma, Silvio Moreira gritou: "Essa senhora apoia o aborto e o casamento gay. Somos contra isso. Esse mulher não pode ganhar".
Dentro do prédio, falando para uma platéia de cerca de mil fiéis, Dilma declarou: “Eu sou a favor da vida em todas as suas manifestações e seus sentidos”.
Na noite da véspera, num ato de campanha realizado em Garanhuns (PE), Lula ousara estabelecer um liame entre as biografias de Dilma e de Jesus Cristo.
“Ela foi barbaramente torturada [durante a ditadura militar]. Vocês sabem... Como Jesus Cristo foi torturado”, dissera Lula.
Pois diante dos evangélicos, Dilma se esforçou para espantar outro tipo de suplício: a tortura da desconfiança que religiosos conservadores grudam nela.
Evocou as ações do governo Lula em favor dos pobres. E disse que, eleita, vai “cuidar do povo” e da família, “como ele”.
Num tom devoto que destoa de seu passado materialista, rogou aos presentes: “Quero pedir a vocês que orem por mim”.
O pedido de oração chega dois dias depois de ter ganhado as manchetes uma polêmica envolvendo um bispo da Igreja Católica.
Em artigo na web, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos (SP), recomendou aos católicos que não votem em Dilma. Para ele, uma defensora do aborto.
Em passado recente, a candidata defendia a descriminalização do aborto. Hoje, limita-se a advogar o cumprimento da lei existente.
Uma lei que prevê o aborto apenas em dois casos: quando decorre de estrupo ou quando a gravidez impõe risco de morte à mãe.
Além de Temer, acompanhou Dilma no encontro com os evangélicos o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
Ex-seminarista, Gilbertinho, como é chamado pelo chefe, foi escalado por Lula para aproximar Dilma das sacristias.
Em nome dos evangélicos, discursou o pastor e deputado federal Manoel Ferreira (PR-RJ), da Assembleia de Deus.
A julgar pelo que disse o pastor-deputado, foi dando que o governo da ex-ministra Dilma recebeu o apoio dos evangélicos à candidata Dilma.
Manoel recordou aos presentes que Lula sancionara a lei que regularizou os templos erigidos em áreas públicas pertencentes à União.
“Agora chegou a hora de estarmos unidos. O que podemos fazer por esse homem?”, perguntou o pastor Manoel aos presentes. Ele mesmo respondeu: “Fazer a sua sucessora”.
Manoel segredou que se reunira com Dilma no início do ano. Aconselhara a ela que tomasse distância das polêmicas que deixam religiosos de cabelos hirtos.
“Pedimos que alguns temas polêmicos do Programa Nacional de Direitos Humanos pudessem ser revistos...”
Pedimos “ainda que essas matérias controversas fossem objeto de apreciação no fórum competente, que é o Congresso, e não partissem do Executivo”.
Referia-se a temas como a legalização do aborto e a união civil entre homossexuais. “Ela nos garantiu que, eleita, não enviará essas propostas”. Amém!
Curiosamente, há na praça uma candidata que, fiel da mesma Assembléia de Deus do pastor Manuel, posiciona-se claramente contra o aborto.
Chama-se Marina Silva (PV). Por que os evangélicos não a apóiam? A turma da Bíblia alega que Marina não pediu apoio. A ser verdade, fez muito bem.
O Brasil, como se recorda, está organizado no formato de República laica. Igreja de um lado, Estado do outro. A mistura devolve o país a tempos medievais.
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