Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Os discursos que o papa Francisco vai fazer durante
a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) devem tratar de temas como
dignidade, justiça social, solidariedade, direitos humanos, combate à
pobreza e à corrupção, ecologia e consumismo. A avaliação é do teólogo e
professor Leonardo Boff, para quem os tópicos representam a linha que o
papa pretende seguir para transformar a Igreja Católica.
"Creio que ele vai prolongar o discurso que já era característico
dele como cardeal em Buenos Aires, dizendo que a pobreza não se combate
com a filantropia, se combate com justiça social. E ele disse mais,
disse que nenhuma solução é eficaz para os pobres se ela não incluir os
próprios pobres", disse em entrevista à
Agência Brasil.
Para o teólogo, nessa que será a primeira viagem internacional do
papa Francisco, o pontífice deve abordar nos pronunciamentos atitudes
concretas para a reformulação da Igreja, como apuração das denúncias de
irregularidades no Banco do Vaticano e tolerância zero aos pedófilos. "É
um crime que deve ter como punição pelo menos de oito a doze anos de
prisão. O papa já depôs a diretoria do Banco do Vaticano e já está preso
o tesoureiro que transportou, da Suíça para a Itália, em um aviãozinho,
20 milhões de euros. Então é um homem que não é só o franciscano, da
ternura e fraterno com todo mundo, mas é também o jesuíta, que pode ter a
mão forte”.
Leonardo Boff assinala que Francisco não deve propor mudanças de
forma autoritária. “Ele sabe que pode ter muita resistência na Cúria,
por isso convocou oito cardeais vindos do mundo inteiro para juntos, de
forma colegiada – e não monárquica e solitariamente – dirigir a Igreja e
encabeçar a reforma. Ele se armou de uma estratégia poderosa para que
se sinta apoiado. Seguramente ele vai limpar a Cúria Romana dos
malfeitos que havia lá dentro de crimes de desvio de dinheiro",
explicou.
Na avaliação do professor, o papa vai usar o exemplo pessoal ao
pregar apoio aos pobres, tema que, na opinião de Boff, será mais um
ponto forte nos discursos da Jornada. "Creio que vamos ter uma Igreja
mais simples, mais na linha da espiritualidade franciscana, longe dos
palácios. Ele não mora no Palácio do Vaticano, mora na casa dos
hóspedes, come com todo mundo, renunciou a todos os títulos de poder”.
O professor acredita que a origem latino-americana do papa Francisco
também é um sinal de mudanças que devem ocorrer na Igreja. “É o
primeiro papa do terceiro mundo e seguramente vai inaugurar uma dinastia
de papas que virão da África da Ásia e da América latina, onde vivem
60% dos católicos. Acho que começa uma nova história da Igreja, com um
novo estilo de papado: não mais imperial, monárquico, mas sim pastoral.
Ele está mostrando isso. O tempo é curto para ver as consequências, mas
todo mundo está se realinhando à forma mais comedida e simples que ele
está inaugurando", disse.
Sobre as recentes manifestações populares no país, Leonardo Boff
destacou que o papa deve manifestar o desejo de que as autoridades
brasileiras ouçam as demandas dos jovens, que pedem melhor qualidade de
vida para o povo. "A causa deles é justa e está conforme o Evangelho.
(…) Creio que o papa vai fazer um apelo também às autoridades para que
escute os cidadãos e não governe de costas para o povo. Acho que ele é
um homem corajoso, que fala a verdade. Não usa metáforas e nem discursos
vaporizados, que vão escondendo as contradições. Ele fala sobre as
contradições e sobre a nossa responsabilidade em resolvê-las", analisou.
O teólogo não acredita que a vinda do papa possa despertar protestos
ou manifestações. "Os jovens já entenderam que ele [o papa] está do
lado deles e não contra eles. O povo brasileiro é acolhedor e
hospitaleiro, não fará manifestações contra o papa. Haverá manifestações
ao estilo do que houve até agora, sem auxílio de partido e sem
movimentos identificados. É o povo que está na rua reclamando outro tipo
de governo, outro tipo de democracia, outro tipo de relação para com a
população, que não seja esta autoritária, mediada por políticos
corruptos. Essas manifestações poderão continuar e o papa seguramente
vai entender e apoiar isso. Seguramente vão abrir ala e aplaudir o papa.
(…) Não temo que haja distúrbios, pelo contrário: será muito
emblemática a presença dele. Ele é Francisco. Francisco não é um nome. É
um projeto de Igreja: diferente, unida, popular, pobre e amante da
natureza, chamando todos os seres, como chamava São Francisco, de irmãos
e irmãs. Irmãos e irmãs a gente trata bem, cuida e não entra em
conflito com eles", concluiu.
Edição: Denise Griesinger
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